Quem são exatamente essas organizações que se unem para construir um mundo melhor?
De acordo com o IPEA, hoje existem no Brasil mais de 820 mil organizações compondo o que chamamos de terceiro setor.
Essa expressão, terceiro setor, surgiu nos Estados Unidos como uma divisão em que o primeiro setor é formado pelo governo, o segundo setor pelas empresas e o terceiro setor pelas organizações sem fins lucrativos. Para suprir e ocupar os espaços não preenchidos nem pelo Estado e nem pela atuação das empresas que o terceiro setor surgiu, criando projetos e soluções próprias e independentes para as demandas da sociedade. E aqui vale lembrar que mesmo com sua contribuição, a ideia não é substituir o Estado.
Assim como os demais, o terceiro setor é uma esfera complexa e heterogênea, mas que tem em comum o trabalho que essas organizações realizam para a garantia de direitos dos
cidadãos a uma vida de qualidade. Está ligado à participação ativa da sociedade nas atividades de interesse público.

Um pouquinho de história

No Brasil, entende-se que a preocupação com o social começou a se estruturar em 1543, com a fundação da Santa Casa de Misericórdia em São Paulo. Mais de trezentos anos depois, em 1908, a Cruz Vermelha chega ao Brasil e em 1910 o escotismo vem com a missão de ajudar o próximo. Mais recentemente, em 1983 a Pastoral da Criança treinou líderes comunitários para combater a mortalidade infantil e em 1993, fundou a Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida. E desde então esse número tem aumentado.

Estas datas mostram alguns marcos históricos importantes e vale lembrar que o primeiro levantamento oficial sobre o terceiro setor foi realizado apenas em 2002, utilizando os dados do IBGE a partir de 1996. E mostrou que, nesse período, o terceiro setor havia crescido 157%, contando já com 276 mil organizações.

Essas organizações ganharam mais espaço na medida em que, com a Constituição de 1988, conhecida como a constituição cidadã, o Estado se abriu para a participação da sociedade civil em espaços consultivos e deliberativos, a partir das premissas da democracia participativa e do controle social. Assim, o terceiro setor influencia as agendas públicas, atua na execução de políticas públicas e ocupa espaços importantes de democracia direta, como conselhos, conferências, audiências públicas e outros.

Alguns dados importantes

Há uma definição estrutural proposta em 1996, por Salamon & Anheier, sobre o que uma organização precisa ter para ser considerada do terceiro setor:

  • Ser organizada, isto é, ter algum grau de institucionalização;

  • Ser privada, ou seja, institucionalmente separada do governo;

  • Não existir distribuição de lucros;

  • Ser capaz de administrar suas próprias atividades;

  • E por fim ter algum grau de participação voluntária, mesmo que apenas no conselho diretor

Essas organizações, são popularmente conhecidas como ONGs, mas possuem como característica serem juridicamente caracterizadas como: Organizações da Sociedade Civil (OSCs), Organizações Sociais (OSs), Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips). 

Hoje, além das 802 mil organizações, temos cerca de 7,2 milhões pessoas praticando trabalho voluntário segundo o IBGE, e segundo a pesquisa do Brasil Giving Report de 2018: sete em cada dez pessoas doaram dinheiro para alguma causa (sendo organizações religiosas mais da metade) porque faz com que se sintam bem, segundo a maioria, que também diz considerar o impacto das organizações sociais como positivo para as comunidades locais, para o Brasil como um todo e internacionalmente. Segundo a pesquisa TIC Organização Sem Fins Lucrativos de 2014, apenas 3,3% delas firmou convênios com o Governo Federal, que possui um orçamento de menos de 0,5% destinado a entidades sem fins lucrativos.

 

Muito mais do que isso

Para entendermos realmente do que se trata o terceiro setor precisamos olhar para além dos números. Cada uma destas organizações que compõe essa rede, seja pequena atuando no seu bairro, ou com uma estrutura de abrangência nacional, está trabalhando passo a passo pelo desenvolvimento do país. Das pessoas que constroem esse país, para que cresçamos juntos e de maneira sustentável.

São pessoas que se organizam para discutir e intervir em suas realidades, com uma série de dificuldades e lidando com vários estigmas, mas com uma missão forte. 

Já obtivemos muitas conquistas graças ao trabalho realizado na educação, saúde, assistência, cultura e cidadania graças ao trabalho das organizações sociais do terceiro setor. Os resultados são bonitos e decisivos em muitas áreas. Mas, como vimos, ainda é um espaço recente e que precisa de um olhar mais profissional para ter uma gestão adequada ao seu potencial de transformação.

Nós do Bússola entendemos que as organizações do terceiro setor não estão sozinhas nas suas dores e objetivos, e que a tecnologia pode ser uma ferramenta para fortalecer todo esse trabalho.

Esse artigo é o pontapé inicial de uma série de conteúdos sobre esse mundo que precisa ser visto, reconhecido e fortalecido.

Vamos juntos?

Referências

4 pontos para entender o terceiro setor – Politize
Gestão de organizações da sociedade civil – Livro de Junqueira e Padula
Gestão em organizações do terceiro setor – Revista Direitos Humanos e Democracia
IBGE calcula participação econômica do terceiro setor – Parceiros Voluntários
Mapa das organizações da sociedade Civil – IPEA
Tudo que você precisa saber antes de escrever sobre ONGS – Manual da ABONG

Sobre a autora

Este artigo foi escrito por Daiana Rauber. Psicóloga clínica e engajada em organizações sociais desde 2009. Possui experiência com treinamentos e produção de conteúdo e é idealizadora do programa Minha Marca no Mundo.