Se você é líder ou atua em uma ONG, sabe bem que a escassez de recursos e a sobrecarga de trabalho são desafios constantes. Mas, em meio a essa realidade, como a liderança pode se fortalecer e desempenhar um papel ainda mais eficaz? É exatamente sobre isso que falamos nesta entrevista exclusiva com Pamella Kristine, sócia-fundadora da We Teams e especialista em gestão de pessoas e desenvolvimento institucional no Terceiro Setor.
Nesta conversa, Pamella compartilha suas percepções sobre a maturidade das lideranças em ONGs no Brasil, os principais desafios enfrentados e as estratégias para superá-los. Se você deseja aprimorar sua gestão, fortalecer sua equipe e, consequentemente, o impacto da sua organização, este conteúdo é para você.
Perguntamos para Pamella como ela tem percebido o nível de maturidade das gestões das ONGs no Brasil e se os líderes possuem condições ideais para exercerem sua função, e ela reconhece que estes profissionais são, por natureza, buscadores de conhecimento. "Os líderes sociais são pessoas muito curiosas, que estão sempre buscando aprender e se capacitar", afirma.
No entanto, ela observa que, embora haja um crescimento na oferta de capacitações, a maioria dos líderes ainda concentra seus esforços na captação de recursos, muitas vezes em detrimento de outras áreas igualmente importantes, como a gestão de pessoas.
Pamella destaca a necessidade de uma visão mais ampla no desenvolvimento institucional das ONGs. "O desenvolvimento institucional de uma ONG inclui diversos pilares. Ela não olha só para a parte de recursos, mas também para a governança, gestão de pessoas e liderança", enfatiza. Ela ressalta que, para que os líderes sejam mais maduros e preparados, é essencial que, além de buscarem novas estratégias de captação de recursos, eles também se dediquem ao próprio desenvolvimento enquanto lideranças, focando em aspectos comportamentais e psicológicos.
Para a mentora, um dos passos fundamentais para promover a conscientização sobre a importância da gestão de pessoas é criar oportunidades de diálogo dentro do Terceiro Setor. Ela menciona que, embora haja um movimento crescente para abordar esses temas, ainda é algo tímido e novo, especialmente no que diz respeito à saúde mental das lideranças. "Precisamos começar a criar mais espaços de diálogo, seja em lives, artigos, rodas de conversas ou nos eventos do Terceiro Setor", sugere.
Além disso, ela acredita que apoiadores e parceiros têm um papel fundamental em conscientizar as organizações sobre a importância de uma gestão de pessoas eficaz, indo além do apoio financeiro e promovendo conversas e mentorias focadas no desenvolvimento comportamental e psicológico das lideranças.
Ao abordar os desafios enfrentados pelas lideranças no dia a dia, Pamella identifica a sobrecarga de trabalho como um dos principais problemas. Ela relaciona essa sobrecarga à falta de recursos e à cultura do "fazer muito com pouco", que se tornou um lema dentro do Terceiro Setor. "Se a sua liderança faz muito com pouco, ela está sofrendo uma precarização do seu trabalho", alerta.
Segundo a mentora, essa cultura de sobrecarga e precarização não afeta apenas a saúde mental das lideranças, mas também compromete a qualidade do trabalho e os resultados alcançados pelas organizações.
Ela ressalta que a cultura de precarização do trabalho é uma realidade em organizações de todos os portes, o que reforça a necessidade de uma mudança de mindset no Terceiro Setor. Embora a sobrecarga de trabalho seja um problema generalizado, ela acredita que as organizações de pequeno porte sofrem mais com esse impacto. "As organizações de pequeno porte têm maior probabilidade de fechar suas portas porque, geralmente, são poucas pessoas e a liderança acaba assumindo várias funções", explica.
Pamella sugere um plano de ação para as ONGs que desejam iniciar um processo de desenvolvimento institucional, começando pela gestão de pessoas. Ela recomenda que o primeiro passo seja a realização de um diagnóstico organizacional, que permita às lideranças compreenderem o estado atual da organização e identificar as áreas que necessitam de maior atenção.
"O diagnóstico organizacional que, por exemplo, a gente faz enquanto WeTeams, foca muito na gestão de pessoas e do RH, aprofundando quais são as fraquezas, as ameaças e os maiores desafios dessa área dentro da organização", detalha.
Além disso, é importante envolver toda a equipe no processo de diagnóstico, já que os colaboradores têm uma visão única e valiosa do funcionamento diário da organização e suas perspectivas podem revelar aspectos que, muitas vezes, passam despercebidos pela liderança.
Após a realização do diagnóstico, Pamella sugere que a próxima etapa seja estabelecer um diálogo com apoiadores para conscientizá-los da importância dos recursos destinados para desenvolvimento institucional.
"Capacitar a equipe não é um luxo, mas uma necessidade. Investir no desenvolvimento das habilidades técnicas e comportamentais dos colaboradores é fundamental para que a ONG consiga alcançar seus objetivos e se adaptar às mudanças do ambiente externo", argumenta.
Ela explica que, ao engajar os parceiros nesse diálogo, as lideranças das ONGs podem criar uma mudança de cultura sobre a conexão entre a gestão de pessoas e o sucesso a longo prazo da organização. Pamella afirma: "Eu acho que se as pessoas, as lideranças e os empreendedores das ONGs começarem a também levar essa necessidade para os seus apoiadores e parceiros, as pessoas vão começar também a entender que isso é uma demanda, isso é uma necessidade."
E completa dizendo que "A gestão de pessoas e RH está totalmente relacionado à estratégia da organização, à captação de recursos, ao crescimento dessa organização, ao aumento do impacto", afirma. Essa interconexão significa que negligenciar a gestão de pessoas pode ter consequências negativas em várias outras áreas, afetando o crescimento da ONG a longo prazo.
Pamella Kristine é sócia fundadora da We Teams, uma empresa que oferece soluções em gestão de pessoas e RH para organizações sociais e pequenas empresas que geram impacto positivo e tem sólida experiência em fortalecer a gestão e o planejamento de organizações sociais. Além disso, atuou no desenvolvimento e na implementação de um programa de fortalecimento e desenvolvimento institucional voltado para organizações sociais de base comunitária.
A plataforma da Bússola Social oferece recursos que possibilitam o acompanhamento das atividades realizadas e a gestão organizada dos dados dos beneficiários. Com funcionalidades como relatórios de oficinas e eventos, registro da participação individual, monitoramento dos atendimentos e acesso ao histórico completo dos beneficiários, as OSCs podem obter uma visão ampla de suas operações.
Além disso, a plataforma fornece insights sobre o perfil dos atendidos e o impacto das ações da organização, facilitando a tomada de decisões estratégicas e o aprimoramento contínuo dos serviços oferecidos.
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